Na semana que passou tivemos a oportunidade de ler um interessante post de Fred Wilson, um dos fundadores da USV, influente empresa de venture capital de Nova York (fundadores que se reafirmam como “thesis-driven investors”), fazendo um contraste entre as oportunidades que se abriram com a Web2 e as que estão se abrindo com a Web3 (ou Web 2.0 e Web 3.0, como alguns preferem).
Segundo Wilson, logo no início dos anos 2000 ficou claro que a grande oportunidade na web seria construir grandes redes de usuários engajados. Esta era a tese inicial da USV para a web2. E o caminho em que muitas/maioria daquelas redes foram construídas foi entregando uma única utilidade no primeiro dia e, então, erigindo network effects (efeitos de rede) no entorno daquela utilidade. Chris Dixon chamou isso de “venha pelas ferramentas, fique pela rede”.
Agora, segundo Wilson, nós estamos vendo uma ação “go-to-market” diferente na web3. A maioria dos consumidores começa com o token/asset e vai daí para frente. Inicialmente, foi o Bitcoin, e você o armazenava na Coinbase. Depois, foi o Ethereum, e você o estacaria. Depois, foi uma Cryptokitty e você a geraria. Depois foi uma TopShot e você a coletaria e a comercializaria. Depois foi uma CryptoPunk e você o transformaria no seu avatar do Twitter. Depois foi o token do Axie e você o utilizaria para jogar no Axie Infinity. Qualquer um poderia ir adiante com este exercício, mas a ideia já deve ter sido captada.
E o mais interessante, segundo Wilson, é que esses ativos que você inicia não necessitam estar nas redes que você usava antes. Você pode mover seu Bitcoin para sua ledger wallet. Você pode juntar seu Ethereum e Uniswap. Você pode listar seu CrytpoPunk no OpenSea. Você pode usar o seu Axie para comprar um carro. Tudo isso leva a crer que a ação “go-to-market” na web3 é: “venha para os ativos, fique pela experiência”.
Este movimento foi bem capturado por Chris Dixon num post intitulado “Why decentralization matters” (Porque a descentralização importa). Segundo Dixon, durante a primeira era da internet – dos anos 1980 ao início dos anos 2000 – os serviços internet eram erigidos em protocolos abertos que eram controlados pela comunidade da internet. Isto significou que pessoas e organizações poderiam crescer sua presença internet sabendo que as regras do jogo não iriam mudar. E assim grandes “propriedades” da web começaram: Yahoo, Google, Amazon, Facebook (agora “Meta”), LinkedIn, e YouTube.
Ainda segundo Dixon, durante a segunda era da internet, de meados dos anos 2000s até o momento do post (2018), companhias tecnológicas lucrativas – mais notadamente Google, Apple, Facebook e Amazon (GAFA) construíram software e serviços que rapidamente ultrapassaram as capacidades dos protocolos abertos. O explosivo crescimento dos smartphones acelerou esta tendência, à medida que as aplicações móveis se tornaram a maioria do uso da internet. Eventualmente os usuários migraram dos serviços abertos para os serviços mais sofisticados e centralizados. Mesmo quando os usuários ainda acessavam os protocolos abertos com os da web, eles tipicamente fariam isso pelos software e serviços do GAFA.
A boa notícia (aponta Dixon) é que bilhões de pessoas acessaram tecnologias espantosas, muitas das quais de forma gratuita. A má notícia é que se tornou mais difícil para startups, criadores, e outros grupos crescerem sua presença na internet sem se preocuparem sobre as plataformas centralizadas mudando as regras para eles, tomando suas audiências e lucros. Isto, por seu turno, sufocou a inovação, tornando a internet menos interessante e dinâmica. A centralização criou também tensões sociais maiores, as quais nós vemos nos debates sobre assuntos como fake news, bots patrocinados por Estados, “no platforming” (a não plataformização) de usuários, leis de privacidade da Comunidade Europeia, e vieses de algoritmos.
Felizmente há uma terceira era da internet: a Web3! Esta terceira era está em franca evolução, e os principais serviços da internet estão sendo rearquitetados inteiramente. Eles estão sendo possibilitados pelas redes criptoeconômicas, como uma generalização das ideias primeiramente introduzidas por Bitcoin, e desenvolvidas mais à frente em Ethereum. As criptonetworks (aquelas apoiadas em Blockchain e Distributed Ledger Technologies-DLTs) combinam (segundo Dixon) as melhores características das duas primeiras eras da internet: são governadas por comunidades, são redes descentralizadas com capacidades que, eventualmente, excederão aquelas da maioria dos avançados serviços centralizados.
E por que a descentralização? Dixon municia seu argumento a partir dos problemas com as plataformas centralizadas. Plataformas centralizadas seguem um ciclo de vida previsível. Quando elas começam, elas fazem tudo que podem para recrutar usuários e complementadores externos, tais como desenvolvedores, negócios e organizações da mídia. Elas fazem isso para tornar seus serviços mais valiosos, à medida que as plataformas (por definição) são sistemas com efeitos de rede de múltiplos lados. À medida que a plataforma se move para cima na Curva-S de adoção, seu poder sobre os usuários e terceiros aumenta gradualmente. Ver Figura 1 à frente.
Quando elas atingem o topo da Curva-S, suas relações com os participantes da rede muda de um jogo positivo para um de soma zero. A forma mais fácil de continuar crescendo repousa em extrair dados dos usuários e em competir com os complementadores por audiências e lucros. Os históricos exemplos disso são Microsoft vs. Netscape, Google vs. Yelp, Facebook vs. Zynga, e Twitter vs. seus clientes. Sistemas operacionais como iOS e Android têm se comportado melhor, apesar de ainda pegarem uma saudável taxa de 30%, de rejeitarem aplicativos por razões arbitrárias, e subordinam a funcionalidade de aplicativos de terceiros a seu prazer.
Enfim, acreditamos aqui na Creativante que estamos adentrando uma nova era na internet, uma que facilmente podemos caracterizar como de “pós-grandes plataformas digitais”. As evidências desta nova era se acumulam a cada dia. O que aspiramos é que o grande vencedor nesta nova era seja o consumidor final dos novos produtos e serviços!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a nova era pós-grandes plataformas digitais, não hesite em nos contatar!