Enquanto o 1% da população (aquele pertencente à camada mais elevada da renda da sociedade, e também o contingente mais intelectualizado, e que, de alguma forma, pauta a mídia) se “ocupa” com o atual estado da Economia (se esta está se recuperando ou não, e com qual velocidade e pujança tal recuperação se manifesta, num debate interditado pelas questões de natureza monetária e fiscal), um fenômeno disruptivo, e de grande poder transformador, vai acontecendo de forma acelerada e silenciosa, o qual alguns estão denominando de “tokenização” da Economia.

Mas o que significa esta “tokenização” da Economia? De acordo com a economista austríaca Shermin Voshmgir, autora do livro de 2019, e reeditado em 2020, “Token Economy: How the Web3 reinvents the Internet” (Economia dos Tokens: Como a Web3 reinventa a Internet), fundadora do BlockchainHub em Berlim/Alemanha, e diretora do Research Institute for Cryptoeconomics na Vienna University of Economics, na Áustria, tokens (símbolos) estão para a Web3 o que os sites da web foram para a Web1. Com a emergência da WWW em 1991, Tim Berner Lee introduziu um novo padrão que nos permitiu criar visualmente páginas interessantes na web com apenas algumas linhas de código, e surfar na Internet seguindo links.

O estrondoso sucesso da Web1 levou à Web2, e hoje, com desenvolvimento dessa última, nós estamos presenciando uma nova revolução com a Web3 (ver Figura 1 à frente para um melhor entendimento das diferenças entre as três etapas de evolução da web). Ou seja, partimos do que ficou reconhecido como a Economia da Informação, passamos pela Economia das Plataformas, e hoje estamos vivenciando a Economia dos Tokens.

Tal evolução caminha pari e passu com o desenvolvimento do ecossistema cripto, que dá suporte à tecnologia de Blockchain, a qual deu origem, em 2008, à hoje conhecida criptomoeda Bitcoin, desenvolvimento esse que hoje já se encontra na sua terceira geração, como tratamos aqui na newsletter de 10/10/2021.

Como vimos na newsletter de 31-10-2021, estamos vivenciando o alvorecer de uma economia que vai aos poucos deixando para trás modelos de negócios centralizados, baseados em plataformas digitais (algumas com dimensões globais), e começa a proporcionar a geração de novos modelos de negócios descentralizados, e com infraestruturas, governanças, serviços/aplicações, e culturas de inovação bem distintas daquelas que floresceram na Web1 e, acentuadamente, na Web2 (a Figura 2 à frente aponta para algumas das principais diferenças entre as aplicações Web2 versus aquelas da nova Web3).

O sucesso da Web3 vem sendo mais observado pelo surgimento de novos ecossistemas financeiros digitais, marcadamente o da DeFi- Decentralized Finance/Finanças Descentralizadas (como já discutido aqui nas newsletters de 01-11-2020, 08-11-2020, 16-11-2020, 22-11-2020, e 30-11-2020), os quais conformam o novo mundo “cripto”, que, em função do seu valor de capitalização de mercado (algo como 2,7 trilhões de dólares), não pode ser mais ignorado.

No entanto, o sucesso da Web3 e do mundo cripto que ela viabiliza nessa nova economia tokenizada, não se resume aos ativos financeiros. O que também estamos presenciando hoje é o florescimento transações e novos negócios com tokens (fungíveis e não fungíveis - estes últimos discutidos na newsletter de 22-08-2021) que representam uma ampla variedade ativos do mundo real. E o Brasil não está fora deste movimento.

A tokenização chegou, por exemplo, ao mercado imobiliário. Como recentemente descrito no jornal Valor Econômico (matéria do Valor Investe de outubro de 2021), a tokenização de imóveis já é uma realidade no país. O imóvel (e sua escritura) passaram a ser ligados a um token criptografado, que representa algo único e que não pode ser mudado (daí o nome de “não-fingível”), e que usa como base o blockchain.

A comercialização é a desse token. Quando alguém compra o token, fica registrado que a pessoa (comprador) passa a ser proprietária, naquele momento, desse token que, por sua vez, é “dono” daquele imóvel. O grande diferencial é que, com a digitalização das propriedades, não apenas alguém pode comprar o token todo (e ser, na prática, dono do que ele representa), mas como pode adquirir apenas frações do token – e, portanto, ser dono de apenas uma parte daquele bem (neste caso, de um pedaço do imóvel).

Neste sentido, a Imovelweb, um portal imobiliário com 20 anos de experiência, com atuação no território nacional e em alguns países da América Latina, fez parceira de transformação digital com a Netspaces, uma plataforma para criação, transação e gestão de propriedades digitais, para entregar uma nova forma de aquisição de imóveis. Segundo os responsáveis, pelas “regras do negócio”, além de o limite de compra inicial ser de 20% do token/imóvel, a mesma pessoa poderá, progressivamente, em até 10 anos, comprar o restante. Além disso, frações de um mesmo token não são vendidas para mais de uma pessoa, o que a tecnologia em si até permite. Mas como o objetivo é, aos poucos, mostrar o que a digitalização imobiliária pode trazer de mudanças, desta vez, será permitido apenas um comprador para cada uma das frações do imóvel.

Em resumo, estamos em franca evolução da tokenização da Economia, um fenômeno novo, inovador sob vários aspectos, que transforma a economia (abandonando modelos e culturas de negócios assentados há vários anos, o que abre novas oportunidades e novos desafios), e revoluciona a forma como a sociedade organiza seus processos produtivos e reprodutivos!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a tokenização da Economia, não hesite em nos contatar!

 

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