Não é mais novidade para muitos que estamos vivenciando uma nova era na Internet, impulsionada por novas tecnologias, inovações e novos modelos de negócios. Novos termos estão surgindo, tais como Mundo Cripto (originado do avanço da moderna Criptografia Digital), Cryptocurrencies – Moedas Criptografadas, DeFi (Digital Finance – Finanças Digitais), Tokenização, Confiança Digital, dentre outros.

Um dos alicerces deste novo mundo é o desenvolvimento da tecnologia da Blockchain (cadeia de blocos, em português literal, que foi definida por Chris Dixon, sócio da Andreessen Horowitz - AH Capital Management, uma empresa norte-americana conselheira de investimentos, como sendo “computadores que produzem compromissos), bem como do ecossistema de aplicações e negócios que tem surgido ao seu redor.

Embora esteja sendo apropriada pela comunidade de desenvolvedores de software, sistemas e serviços de informação, e pela comunidade de negócios de tecnologia e inovação, como algo natural do seu desenvolvimento, para os cidadãos comuns e não afeitos ao tema ainda permanecem várias dúvidas sobre o que, de fato, representa esta tecnologia. Afinal, qual é o efetivo ganho com a adoção de tal tecnologia, e qual é o seu potencial transformador?

Dos vários registros que temos identificado em nossas pesquisas desde quando o tema da Blockchain começou a emergir, não somente em 2008 (quando foi lançado o inovador White Paper do Bitcoin, pelo enigmático pseudônimo de Satoshi Nakamoto), mas sobretudo na mídia, e quando apareceu explicitamente, pela primeira vez, na metodologia do Gartner Hype Cycles de Tecnologias Emergentes em 2016 (Figura 1 à frente) (*), e em livros, como o de Don Tapscott e seu filho Alex Tapscott, publicado também em 2016, intitulado “Blockchain Revolution: How the Technology Behind Bitcoin and Other Cryptocurrencies Is Changing the World” (A Revolução da Blockchain: Como a Tecnologia Por Trás da Bitcoin e Outras Criptomoedas Está Mudando o Mundo), ainda não havíamos identificado um argumento robusto que nos encaminhasse para a defesa, do ponto de vista econômico, do efetivo ganho com a adoção dessa tecnologia.

No entanto, cremos que identificamos o que podem ser considerados os primeiros elementos básicos para uma defesa da “Economia da Blockchain”, os quais podem ser encontrados a partir dos trabalhos do MIT-Massachusetts Institute of Technology Cryptoeconomics Lab nos EUA. Num trabalho intitulado “Some Simple Economics of the Blockchain” (que podem ser traduzidos pelo título desta newsletter), pioneiramente lançado em 2016, mas somente publicado numa revista técnica em julho de 2020, numa das mais respeitadas entidades da comunidade de Computação do mundo, a Association for Computer Machinery – ACM, seus autores, Christian Catalini e Joshua S. Gans, defendem que a solução de market design (projeto de mercado) proporcionada pela Bitcoin e sua infraestrutura baseada em Blockchain, provê algumas das vantagens de uma plataforma digital centralizada (por exemplo, a habilidade dos participantes se apoiarem em uma rede compartilhada e se beneficiarem dos efeitos de rede) sem algumas das consequências que a presença de um intermediário pode introduzir, tais como o aumento do poder de mercado, a habilidade de renegar compromissos com os participantes do ecossistema, o controle sobre os dados dos participantes, e a presença de um único ponto de falha.

Sendo assim, os autores se apoiam em teoria econômica para explicar como 2 (dois) custos chave afetados pela tecnologia da blockchain – os custos de verificação do estado, e os custos de networking (conexão em rede) – mudam os tipos de transação que podem ser realizados na economia. Estes custos têm implicações para o design e eficiência das plataformas digitais, e abrem oportunidades para novos enfoques para a propriedade de dados, privacidade e licenciamento; para a monetização de conteúdo digital; para leilões e sistemas reputacionais.

Segundo os autores, enquanto a redução dos custos de verificação das transações tem consequências econômicas majoritariamente na margem intensiva de produção (melhorando aplicações existentes), na margem extensiva (novas aplicações), a redução nos custos de networking é mais consequente: Bitcoin foi a primeira plataforma digital a ser boostrapped (alavancada/arrancada) de forma descentralizada sem recorrer a investimentos de um intermediário ou planejador. À medida que os primeiros adotantes e investidores experimentaram a criptomoeda na esperança de que a rede aumentasse os usuários, segurança e valor, o token subjacente apreciou, gerando o loop de feedback positivo necessário para atrair subsequentes levas de usuários.

Este orgânico processo de difusão, salientam os autores, usa processos poderosos de incentivos similares aos do modelo de venture capital (capital de risco) para premiar os adotantes iniciais por tomarem riscos e dedicarem seu tempo, esforço, e capital à nova plataforma. O mesmo sistema de incentivo é agora usado por startups para levantarem capital e baixarem os custos de troca para o usuário da base e a comunidade de desenvolvedores dos incumbentes digitais entrincheirados. Isso os permite competir em um contexto em que efeitos de rede são fortemente a favor dos players estabelecidos.

Fazendo um resumo grosseiro, enquanto a redução dos custos de verificação é o que permite Bitcoin estabelecer transações sem um intermediário, a redução no custo de networking é o que permite seu ecossistema escalar. E é exatamente esse mecanismo que está fazendo com que os ativos nesse novo mundo cripto estejam avançando de forma surpreendente!

Há muito mais coisas a compreender na “Economia da Blockchain”. Por hora, acreditamos que os primeiros passos na sua defesa econômica já foram estabelecidos. Novos elementos devem se incorporar a esse conjunto de elementos. Um deles, e que trataremos em próxima oportunidade são as barreiras culturais existentes entre as diferentes gerações de adotantes de tecnologias. As gerações que conviveram e convivem com as tecnologias digitais (Baby-boomers, Geração X, Millenials, Geração Z e Geração Alpha, tiveram e têm posicionamentos diferentes com relação às tecnologias digitais. Com as tecnologias, inovações e modelos de negócios do mundo cripto isso não será diferente. Resta saber como as mais novas gerações (as mais ativas nesse novo mundo) estão se apropriando (e se apropriarão ainda mais no futuro) das oportunidades e desafios dessa nova era!

Se sua empresa, organização ou instituição, deseja saber mais sobre a Economia da Blockchain, não hesite em nos contatar!

(*) Enfatizamos que Blockchain apareceu “explicitamente” porque o tema das Cryptocurrencies, que tem a blockchain na sua base, já havia emergido no Gartner Hype Cycles em 2014 e em 2015.

 

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