Nas últimas duas newsletters (de 05/12/2021 e 12/12/2021) argumentamos que temos muito a ganhar ao pensar o “Futuro do Brasil” a partir de uma perspectiva de longo prazo, apoiada no desenvolvimento científico, tecnológico e de inovações, bem como nos desdobramentos socioeconômicos, políticos e ambientais decorrentes desse tipo de desenvolvimento, tal como proposto pela Profa. Carlota Perez.
Ao pesquisar sobre cerca de 200 anos de história, ela identificou um padrão nas quatro revoluções tecnológicas antes da atual Idade da Informação e das Telecomunicações, e que tais revoluções tiveram um ciclo de vida composto de dois períodos distintos: i) um de instalação (tratado em 05/12/2021), e ii) outro de implantação (tratado em 12/12/2021).
Adicionalmente, ao associarmos o arcabouço analítico da Profa. Perez para pensar o futuro do Brasil, defendemos que existem dois horizontes/eixos de análise que são independentes, mas que se complementam e se alinham com a evolução da atual revolução (de Informação e Telecomunicações) indicada pela Profa. Perez. O primeiro horizonte/eixo é determinado pela Economia do Desenvolvimento, e o segundo é polarizado pelos avançados tecnológicos da indústria de TICs mundial (Blockchain, 5G, Inteligência Artificial etc.), que denominaremos de Economia das TICs. Como já tratamos do primeiro horizonte/eixo, nesta newsletter lidaremos com o segundo.
Sem adentrar em discussões acadêmicas sobre a efetiva natureza do período de implantação do atual ciclo de revolução tecnológica indicado na teoria da Profa. Perez (ou seja, quando aconteceu o “turning point” da revolução anterior para a atual, ou se a atual atingiu, ou não, sua “golden age” e “maturidade”), o que argumentamos nesta newsletter é que a Economia das TICs ainda não desempenhou o seu papel sinérgico tal como sugerido pela Profa. Perez (ver Figura 1 à frente). O ponto central (ou tese) a ser melhor compreendido é que o que vivenciamos até o momento (em termos de avanços em TICs) foi uma “transformação sem mudança”.
Mudança, de um lado, é uma substituição ou troca de algo; Transformação, por outro lado, é definida como uma mudança completa, usualmente para algo com uma utilidade ou aparência melhorada. Um exemplo de transformação sem mudança foi o que aconteceu com o surgimento da Web 1.0. Com ela passamos a ler coisas de uma dimensão física para uma dimensão tecnológica e digital: isto é, passamos da leitura de “textos” físicos para uma dimensão de “hipertextos” digitais (lembrando que o termo “http” significa “hipertext transfer protocol” – protocolo de transferência de hipertexto). Ou seja, transformamos a materialidade do ato de ler, mas não mudamos a cultura da leitura, que continuou a ser física, mas agora pode ser também digital.
Um termo que incorpora bem o que estamos defendendo é o de “Transformação Digital”, muito em voga nos tempos atuais. Na nossa linha de raciocínio o que tem havido em vários domínios da Economia e da Sociedade é um amplo exemplo de uma “transformação sem mudança”. O que temos vivenciado até o momento, impulsionado pelos recentes avanços em tecnologia, inovações e modelos de negócios, são transformações nas formas como conduzimos nossas transações não-econômicas e econômicas da dimensão física para a dimensão digital (e muitas delas em combinação, dando origem ao termo, também da moda, “figital”).
No entanto, nos anos recentes não estivemos mudando (como seria desejável) várias importantes esferas da vida econômica e social, tais como nossas instituições econômicas e sociais (por exemplo, direitos de propriedade, governos, sistemas políticos, incentivos, e por aí vai). E esta tese não está sendo defendida aqui pela primeira vez. Na newsletter de 05-09-2010 já avançávamos este posicionamento em relação ao nosso tratamento analítico das questões tecnológicas frente às questões socioeconômicas, posicionamento reafirmado em entrevista que concedemos ao Prof. Silvio Meira (Emérito da UFPE) em 10-11-2012.
Felizmente, ao que tudo indica, um conjunto de novos desenvolvimentos no âmbito da Economia das TICs está emergindo com um potencial de mudar as instituições econômicas e sociais. E no seio desses desenvolvimentos estão tecnologias tais como as Distributed Ledger Technologies – DLTs, como Blockchain, que estão trazendo além de novas tecnologias, inovações e modelos de negócios, mudanças significativas em coisas que pouco imaginávamos há algum tempo. São mudanças na forma como lidamos com a questão da Confiança nas transações econômicas e não-econômicas, ao praticamente criarmos uma “confiança digital” e “compromissos digitais”, ao criarmos organizações digitais, tais como as DAOs – Decentralized Autononous Organizations (Organizações Autônomas Descentralizadas), ao criarmos Smart Contracts – Contratos Inteligentes, ao desenvolvermos uma produção descentralizada de ativos digitais fungíveis e não-fungíveis, e ao mudarmos a materialidade das nossas finanças, com a DeFi – Decentralized Finance (Finanças Descentralizadas) a partir a criação de moedas digitais globais.
Em resumo, estamos bem alinhados com a definição da Profa. Perez no que diz respeito ao atual ciclo de implantação da “Idade da Informação e das Telecomunicações”, contribuindo com a tese aqui defendida da “transformação sem mudança”, e que as sinergias com o restante dos setores da Economia e da Sociedade poderão nos levar à maturidade da revolução em curso. Só nos resta que haja um maior entendimento dos nossos representantes de que o futuro do Brasil passa necessariamente por esta visão!
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