Na newsletter de 31-10-2021 apontamos que as atuais plataformas digitais centralizadas seguem um ciclo de vida previsível. Quando elas começam, elas fazem tudo que podem para recrutar usuários e complementadores externos, tais como desenvolvedores, negócios e organizações da mídia. Elas fazem isso para tornar seus serviços mais valiosos, à medida que as plataformas (por definição) são sistemas com efeitos de rede de múltiplos lados. À medida que a plataforma se move para cima na Curva-S de adoção, seu poder sobre os usuários e terceiros aumenta gradualmente. Quando elas atingem o topo da Curva-S, suas relações com os participantes da rede mudam de um jogo positivo para um de soma zero. A forma mais fácil de continuar crescendo repousa em extrair dados dos usuários e em competir com os complementadores por audiências e lucros.
Com a Web3, e com a emergência do ecossistema da tecnologia blockchain, surgiram no cenário da Internet as infraestruturas, serviços, aplicações e modelos de negócios desenhados na perspectiva de descentralização. Inicialmente, esse movimento revolucionou a indústria financeira com o controle descentralizado. Em seguida, a aplicação de blockchain se estendeu para vários outros setores da economia.
No entanto, uma questão começou a surgir: blockchain realmente possibilita a descentralização da Internet? Ray, Ventresca e Wan apontaram, em trabalho de 2018, que as plataformas mais proeminentes do mundo dos sistemas baseados em blockchain - como as criptomoedas Bitcoin e Ethereum, que representavam naquele ano mais de 70% do seu mercado (em termos de capitalização), estavam exibindo crescentes baixos níveis de descentralização.
Recente pesquisa de Makarov, Igor and Antoinette Schoar (2021) sugere que apesar da significativa atenção que Bitcoin tem recebido ao longo dos últimos anos, o ecossistema Bitcoin é ainda dominado por grandes e concentrados players, sejam eles grandes mineradores, detentores de Bitcoins ou exchanges (casas de câmbio). Essa concentração inerente torna Bitcoin susceptível a risco sistêmico, implicando também que a maioria dos ganhos de uma adoção mais ampla cairá desproporcionalmente num pequeno conjunto de participantes.
No espírito de compreender melhor a questão, tivemos a oportunidade de encontrar recente trabalho de Zarrin, Phang, Saheer e Zarrin (2021). Segundo os autores, com a presente tendência de perseguir uma Internet descentralizada, muitos métodos têm sido propostos para atingir a sua descentralização, considerando diferentes aspectos do presente modelo da Internet, varrendo desde infraestruturas e protocolos, até serviços e aplicações.
O trabalho dos autores investigou as capacidades da blockchain para oferecer um robusto e seguro modelo descentralizado para a Internet. O trabalho faz uma revisão crítica dos métodos baseados em blockchain capazes de promover a descentralização da Internet. Eles identificaram e investigaram dois aspectos de pesquisa sobre blockchain que oferecem alto impacto em atingir a Internet descentralizada. O primeiro aspecto são os algoritmos de consenso que são vitais componentes para a descentralização da blockchain.
Os algoritmos de consenso são mecanismos que são usados num computador e em sistemas de blockchain para atingir um acordo necessário em um simples valor de dado, ou um simples estado da rede entre processos distribuídos, ou sistemas multi-agentes, tais como com as criptomoedas. Na blockchain da Bitcoin, por exemplo, o mecanismo de consenso é conhecido como Proof-of-Work – PoW (Prova de Trabalho), que requer esforço de poder computacional para resolver um enigma difícil, porém arbitrário de forma a manter todos os nós da rede honestos.
Logo, os autores identificaram três algoritmos de consenso chaves, incluindo o PoP (1), Paxos (2), e PoAH (3), que são os mais adequados para atingir consenso para as escalas de arquiteturas possibilitadas por blockchain para a Internet.
O segundo aspecto que eles investigaram foi a compliance (conformidade) da blockchain com várias tecnologias Internet emergentes e o impacto da blockchain nessas tecnologias. Tais emergentes tecnologias da Internet [IoT, Cloud Computing, Graphchain, Edge Computing, Fog Computing, Peer-to-Peer (P2P), e outras] em combinações com blockchain podem superar as imperfeições estabelecidas pela blockchain de uma maneira para ser mais otimizada, eficiente e aplicável para a descentralização da Internet.
Os autores finalizam o trabalho com uma conclusão positiva, confiantes com a escolha do uso da tecnologia blockchain como uma possibilitadora de descentralização da Internet. Eles entendem que a presente arquitetura da Internet sofre de uma miríade de questões, mas indicam que usar a blockchain pode resolvê-las.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o papel da blockchain na descentralização das atividades na Internet, não hesite em nos contatar!
Referências
Ray, Abhishek; Mario Ventresca, and Hong Wan (2018). A Mechanism Design Approach to Blockchain Protocols. IEEE Confs on Internet of Things, Green Computing and Communications, Cyber, Physical and Social Computing, Smart Data, Blockchain, Computer and Information Technology, Congress on Cybermatics, 1603-1608
Makarov, Igor and Antoinette Schoar (2021). Blockchain Analysis of the Bitcoin Market. NBER Working Paper No. 29396, October, JEL No. F38, G12, G15
- PoP – Proof-of-Property, um protocolo de consenso leve e escalável que oferece prova por propriedades dentro das estruturas de dados da blockchain
- Paxos – Um algoritmo que é usado para atingir consenso entre um conjunto distribuído de computadores que se comunicam via uma rede assíncrona.
- PoAH – Proof-of-Authentication introduz um mecanismo de autenticação para substituir o PoW em dispositivos de recursos limitados, e faz a blockchain ser especifica a determinadas aplicações.