Apesar de existir há algum tempo, o termo Governança Corporativa ganhou maior destaque no mundo dos negócios (e na sociedade como um todo) com os grandes escândalos corporativos das últimas três décadas, tais como os da Enron, WorldCom, e Global Crossing, dentre outros. 

Uma boa governança corporativa passou a ser sinônimo de bons processos pelos quais os objetivos das corporações (e empresas emergentes) são estabelecidos, no contexto dos seus ambientes social, regulatório e de mercado. Atualmente o termo ESG (sigla que representa as preocupações corporativas com Environment/Meio Ambiente, Social/Social, e com a Governance/Governança Corporativa) é o que mais expressa essa preocupação.

No livro lançado em 2015 nos EUA, o editor desta newsletter desenvolveu um framework que dá funcionalidade econômica ao conceito de Governança, a partir do modelo analítico intitulado “Arquitetura Empresarial + Governança + Crescimento”; ou seja, a Arquitetura da Empresa (seja ela na sua dimensão corporativa ou na sua dimensão de infraestrutura de tecnologias de informação e comunicação – TICs) condiciona a sua Governança (tanto corporativa como de TICs), e esta, por sua vez, afeta o seu Crescimento.

Este framework foi imaginado para contextos centralizados de negócios, ou seja, para empresas atuando em mercados onde a centralização é a lógica/força motora subjacente à determinação dos modelos de negócios. O framework foi pensado para mercados onde predominam tanto as hoje denominadas “empresas-tubo” (empresas tradicionais que contratam insumos, processam esses insumos produzindo produtos, distribuem e vendem para mercados únicos, como se estivessem num “tubo”), quanto as “empresas-plataformas” (empresas de múltiplos lados/mercados, que emergiram com força na era digital, conduzindo às hoje reconhecidas plataformas digitais).

Todavia, ao longo da última década (e um pouco mais), o surgimento da tecnologia da Blockchain levou à emergência de um crescente número de plataformas descentralizadas que são governadas menos pelos “donos” das plataformas e mais através de esforços de comunidades. Segundo os autores de estudo publicado em 2020 no Journal of Management, a emergência das plataformas de blockchain oferece uma oportunidade única de examinar estruturas alternativas para governança de plataformas, e para desenvolver uma teoria ao redor do valor de governanças centralizada, semi-descentralizada e descentralizada.

Apoiando-se na Teoria de Mechanism Design (Desenho de Mecanismo) (tratadas aqui nas newsletters de 27-10-2008, e de 09-02-2020), os autores do trabalho avaliam os trade-offs entre centralização e descentralização, e argumentam a favor da semi-descentralização como uma estrutura de governança com maior desempenho. A evidência empírica da indústria de blockchain mostra que a descentralização tem um relacionamento, em formato de U invertido, com a capitalização de mercado das plataformas, com a atenção do desenvolvedor, e com a atividade de desenvolvimento.

Eles examinam ainda os fatores que guiam a descentralização da governança da plataforma, e encontram que as plataformas digitais da camada de infraestrutura – relativamente àquelas da camada de aplicações, têm uma tendência a se tornarem mais descentralizadas. Esta tendência, no entanto, pode ser deslocada por líderes experientes para atingir a semi-descentralização. No geral, o estudo contribui com novos discernimentos sobre características, antecedentes, e consequências da efetiva governança de plataformas.

Já em outro estudo sobre governança descentralizada, os autores argumentam que os atuais modos de governança são inadequados para entender governança no domínio digital, e são parcamente equipados para conceituar a partir de novas formas de governança, tais como as Decentralized Autonomous Organizations – DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas), que são fundamentais no novo mundo baseado na economia da blockchain, ou mundo cripto.

Para maiores detalhes sobre como a temática da Governança Descentralizada está ganhando destaque no mundo cripto (marcadamente no que diz respeito ao funding das plataformas e ao upgrade de seus protocolos), basta uma vista à palestra remota que o Vitalik Buterin, co-criador da plataforma descentralizada Ethereum, proferiu em 2020!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber um pouco mais sobre Governança Descentralizada na Era Digital, não hesite em nos contatar!