Desde a newsletter de 25-04-2021 a Creativante vem defendendo a tese de que para pensarmos o Brasil de forma inovadora (enfrentando seus problemas atuais e apontando perspectivas para o futuro), nós precisamos estar preparados para 03 (três) questões relevantes: a) Em primeiro lugar, entender as estratégias em estão em curso tanto na China (com a sua estratégia de “dual circulation” da Xinomics - de Xi Jinping – tema visto na newsletter de 02-05-2021) quanto nos EUA (com a sua estratégia da “two-track economy” da Bidenomics - de Joe Biden – tema tratado da newsletter de 09-05-2021); b) Em segundo lugar, analisar o Brasil a partir de um framework econômico dual; e, c) Finalmente, definir um posicionamento estratégico que esteja alinhado tanto com a “dual circulation” da Xinomics quanto com a “two-track economy” da Bidenomics.

Neste sentido, começamos a discutir uma estratégia que responda aos itens b) e c) acima citados, e que denominamos de “Estratégia de Duas Trações”: uma externa, ou internacional, baseada em 3C´s: Cooperação, Competição e Confronto (tratada na newsletters de 16-05-2021,23-05-2021, e 30-05-2021), e uma doméstica, ou nacional (que trataremos a partir desta newsletter), baseada em 03 (três) dimensões, ou pilares da vida contemporânea: o Figital (integração entre as dimensões Física e Digital), o Biológico e o Social.

Essa estratégia doméstica se inicia, paradoxalmente, por um dos elos menos tratados estrategicamente (pelo menos pelo nosso “establishment” de “policy making”) da nossa Contabilidade Nacional: a corrente de comércio internacional. Pensando numa economia aberta e com governo, os economistas definem que a igualdade entre a oferta agregada interna e a demanda agregada interna de um país é dada pela seguinte equação:

Y = C + I + G + (X − M), onde Y (é o Produto Interno Bruto - PIB, ou a renda), C – (representa os gastos com consumo); I (é o investimento agregado); G (representa os gastos do governo); X (representa a exportação de bens e serviços); e M (representa a importação de bens e serviços) (1).

Como vem defendendo há alguns anos, o economista Edmar Bacha (um dos pais do Plano Real) argumenta que o crescimento virá com a abertura da economia brasileira (2). Baseado no “The Growth Report: Strategies for Sustainable Growth and Inclusive Development”, estudo patrocinado pelo Banco Mundial, e publicado em 2008, o economista aponta inicialmente para lições de 12 países de crescimento rápido e sustentado [Botswana, China, Cingapura (*), Coreia do Sul, Hong Kong (*), Indonésia, Japão (*), Malásia, Malta (*), Oman, Tailândia, e Taiwan (*)]:

● Exploraram plenamente a economia mundial

● Mantiveram a estabilidade macroeconômica

● Alcançaram altas taxas de poupança e investimento

● Permitiram que os mercados alocassem os recursos

● Tiveram governos comprometidos, críveis e capazes

Adicionalmente, ele indica (no seu texto de 2018) lições de 12 países que romperam a armadilha da renda média: integração, externa e interna, facilitada por homogeneidade e tamanho pequeno:

● Poucos países que conseguiram ultrapassar a barreira da renda média depois da II Guerra o fizeram com abertura para o comércio internacional:

· Cingapura, Corei do Sul, Hong-Kong, Israel, Taiwan (exportadores industriais)

· Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal (exportadores de serviços, inclusive mão de obra)

· Austrália, Nova Zelândia, Noruega (exportadores de recursos naturais)

● Renda per capita ppc: mediana, US$ 43 mil; Brasil, US$ 15 mil

● Parcela comércio/PIB: mediana, 75%; Brasil, 27% (**)

● Além de abertos ao comércio internacional, são relativamente igualitários e, com exceção de Coreia do Sul e Espanha, bem pequenos

● Coeficiente de Gini: mediano, 0,36; Brasil, 0,52

● População: mediana, 10 milhões; Brasil, 207 milhões

● Ao contrário dos 12 países que ascenderam, Brasil é grande, desigual e fechado

Em resumo, o que Edmar Bacha aponta é que o crescimento econômico deverá ser alavancado substantivamente a partir do incremento da produtividade, a qual virá de mais integração com a economia mundial. E nós da Creativante já defendemos publicamente este argumento (ver slides de apresentação no dia 28/01/2020).

A questão que passa a ser relevante é a de como tal abertura da economia doméstica deverá ser processada, ou seja, através de quais vetores “tracionadores”. Como veremos nas próximas newsletters, esses vetores serão aqui chamados de FBS – Figital, Biológico e Social.

Se sua empresa, organização ou instituição, deseja saber mais sobre a Estratégia de Duas Trações para o Brasil, não hesite em nos contatar!

(1) X e M, quando somados, em termos absolutos, representam a corrente de comércio internacional.

(2) Bacha, Edmar (2018). Por que ficamos para trás? Um apanhado de minhas pesquisas. Fundação FHC, 04 de abril.

(*) Hoje desenvolvidos

(**) A corrente do comércio em relação ao PIB