A palavra cripto hoje significa muitas coisas (lembra tanto coisas antigas, tais como Criptografia, quanto mais recentes, tais como Bitcoin, Blockchain, Criptomoedas, Non-Fungible Tokens - NFTs, e por aí vai). O sentido que aqui estamos dando é aquele de um universo (ou ecossistema) da infraestrutura, dos serviços, aplicações e modelos de negócios que estão conformando um mundo “descentralizado”, ou distribuído, que muitos estão sintetizando como a nova Internet, ou a Web3, possibilitando mesmo a “tokenização da economia e da sociedade” (ver newsletter de 07-11-2021).
Muitas questões estão emergindo com a ascensão do que estão chamando de “mundo cripto”. Uma das mais importantes é a de se este “novo mundo” representa uma era “Pós-Grandes Plataformas Digitais”, como registramos na newsletter de 31-10-2021. Como apontado naquela oportunidade, apoiado em trabalho de Cris Dixon, estamos vivenciando a Terceira Era da Internet, onde criptonetworks (aquelas apoiadas em Blockchain e Distributed Ledger Technologies-DLTs) combinam as melhores características das duas primeiras eras da Internet (*): são governadas por comunidades, são redes descentralizadas com capacidades que, eventualmente, excederão aquelas da maioria dos avançados serviços centralizados.
No entanto, como em outras transições da humanidade, a travessia não é tão simples. Ao mesmo tempo em que surgem novas oportunidades, os interesses dos incumbentes se fazem ainda presentes, e novos desafios se apresentam tanto para atuais quanto para novos stakeholders (interessados).
Na semana que passou um grupo de 26 cientistas da computação, engenheiros de software e tecnologistas que levaram décadas trabalhando nestes campos produzindo produtos inovadores e efetivos para um variedade de aplicações em tecnologia de base de dados, criptografia, software open-source, e aplicações de tecnologia financeira, escreveu uma Carta Aberta aos líderes do Congresso dos EUA, intitulada “Letter in Support of Responsible Fintech Policy” (Carta em Suporte a Políticas de Fintech Responsáveis).
Nesta carta os signatários urgem que os Congressistas adotem um enfoque crítico e cético em relação às reivindicações/argumentos da indústria de que os crypto-assets (ativos criptografados) (algumas vezes chamados de cryptocurrencies, crypto tokens, ou web3) são uma tecnologia inovadora que é boa sem reservas. Eles urgem que os Congressistas resistam às pressões dos financiadores da indústria de ativos digitais, lobbysts, e fomentadores para criar um paraíso regulatório seguro para estes instrumentos financeiros digitais arriscados, imperfeitos, e não comprovados, e, ao invés, adotem um enfoque que proteja o interesse público e assegure que a tecnologia seja empregada em serviço genuíno para as necessidades de cidadãos comuns.
Os signatários discordam dessa narrativa – vendida por aqueles com fatias financeiras na indústria dos ativos criptográficos – que estas tecnologias representam uma inovação financeira positiva, e são, de qualquer modo, adequadas para resolver problemas financeiros que os Americanos comuns enfrentam.
A Carta Aberta teve enorme repercussão tanto na mídia tradicional (ver aqui, por exemplo) quanto nas mídias sociais associadas às tecnologias de informação e comunicação – TICs e ao universo “cripto” (por exemplo, ver aqui). Tal repercussão pode ser entendida como natural, já que há poucos dias o mundo cripto foi “chacoalhado” pelo crash da Terra, stablecoin (ver newsletter de 08-05-2022) algoritimizada, e pelas perdas financeiras que tal crash proporcionou.
A repercussão é compreensível; afinal, por um lado, se consultarmos o site do projeto “Web3 Is Going Great”, fundado pelo engenheiro de software Molly White, o qual rastreia alguns exemplos de como coisas no espaço tecnológico blockchain/crypto/web3 “na realidade não estão indo tão bem quanto seus proponentes desejariam que se acreditasse”, a Carta Aberta seria encarada como uma verdadeira defesa dos usuários.
Por outro lado, aqueles que fazem (ou operam na realidade) o chamado “mundo cripto”, como os fundadores de criptomoedas, e particularmente aqueles que são o alvo direto da Carta Aberta (os financiadores da indústria de ativos digitais), tais como Cris Dixon, responsável pela área de cripto da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, têm um argumento substantivo de defesa da aplicação das inovações que estão emergindo neste novo contexto tecnológico e de negócios (ver https://twitter.com/cdixon).
A posição da Creativante é a de colher o melhor dos dois lados da disputa (advocando regulação para que os potenciais danos aos usuários sejam mitigados, e, ao mesmo tempo, apoiando as inovações em curso), recordando algo próximo/equivalente ao que o Cris Dixon defendeu em sua conta no Twitter. Ou seja, para a Creativante “em cada nova onda tecnológica (internet, web2, mobile, web3) há um conjunto de profissionais que coloca sua posição contrária, mas logo passa a receder quando a tecnologia que critica se torna mainstream”.
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre questões do chamado “mundo cripto”, não hesite em nos contatar”
(*) A primeira era da Internet – dos anos 1980 ao início dos anos 2000 – os serviços internet eram erigidos em protocolos abertos que eram controlados pela comunidade da internet. Isto significou que pessoas e organizações poderiam crescer sua presença internet sabendo que as regras do jogo não iriam mudar. E assim grandes “propriedades” da web começaram: Yahoo, Google, Amazon, Facebook (agora “Meta”), LinkedIn, e YouTube).
Na segunda era da Internet, de meados dos anos 2000s até o momento do post (2018), companhias tecnológicas lucrativas – mais notadamente Google, Apple, Facebook e Amazon (GAFA) construíram software e serviços que rapidamente ultrapassaram as capacidades dos protocolos abertos. O explosivo crescimento dos smartphones acelerou esta tendência, à medida que as aplicações móveis se tornaram a maioria do uso da internet.