Na semana passada tratamos brevemente da possibilidade de coexistência de duas estratégias à primeira vista mutuamente excludentes, mas que se mostram complementares entre si quando estudadas em profundidade: estratégias de moats digitais e estratégias de inovação. Nesta newsletter trataremos brevemente sobre outras duas estratégias que têm muito a ver com as primeiras, mas que precisam ser entendidas nas suas essências e especificidades para uma compreensão melhor de suas articulações: as estratégias de resiliência e as estratégias antifrágeis.

Resiliência é um termo em evidência nos circuitos de econômicos e de negócios. Conceito conhecido há tempos nas áreas de Física e Engenharia como sendo “uma propriedade que alguns corpos apresentam de retomar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica”, recentemente passou a receber atenção no âmbito dos gestores e analistas econômicos e de negócios.

Destacamos na literatura Martin Reeves e Kevin Whitaker, que publicaram em 2021 o livro “The Resilient Enterprise: Thriving Amid Uncertainty” (A Empresa Resiliente: Prosperando na Incerteza). Paul Polman e Andrew Winston publicaram na Harvard Business Review, de Novembro de 2021, o artigo intitulado “6 Types of Resilience Companies Neeed Today” (6 Tipos de Resiliência que as Companhias Precisam Hoje). Também podemos citar o aclamado (entre economistas) livro do Prof. Markus Brunnermeir, da Princeton University- EUA, intitulado “The Resilient Society” (A Sociedade Resiliente), também publicado em 2021.

Referindo inicialmente ao livro do Prof. Brunnermeir, o autor parte do entendimento que hoje vivemos em um mundo com choques recorrentes (Saúde: Pandemia- Covid 19, Crises Financeiras, Ciber-ataques, Desastres Naturais, Incertezas com Novas Tecnologias), e temos que aprender como enfrentar tais choques, e como voltar ao “normal”, ou a algum estado razoável posterior aos choques. Ele faz um contraste do conceito de resiliência em relação a outros, particularmente o de robustez, e aponta para três tipos de resiliência: a) Individual (treinamento, capital humano, liberdade); b) Sistemas (Redundâncias: Redes, Cadeias de Valor Globais, Buffers); e, c) Sociedade (Interação entre externalidades individuais e respostas; Reações endógenas de outros; Contrato Social).

Reeves e Whitaker, pela via dos negócios, lidam com seis princípios da resiliência: Redundância, Diversidade, Modularidade, Adaptabilidade, Prudência e Imersão. Já Polman e Winston tratam de três tipos tradicionais de resiliência (financeira, portfólio e organizacional), e de outras três: purpose-driven (movida a propósito), trust-driven (movida a confiança), e stakeholder-driven (movida por interessados).

O conceito de Antifragilidade, por outro lado, é mais recente. É uma propriedade de sistemas em que eles aumentam em capacidade de prosperar como resultado de estressores, choques, volatilidade, ruído, erros, faltas, ataques ou fracassos. O conceito foi desenvolvido por Nassim Nicholas Taleb (*) em seu livro “Antifragile: Things That Gain From Disorder” (Antifrágil: Coisas Que Ganham na Desordem), publicado em 2012.

Segundo o autor, a antifragilidade é fundamentalmente diferente dos conceitos de resiliência (a habilidade de recuperar de falhas) e robustez (a habilidade de resistir a falhas). O conceito tem sido aplicado em análise de risco, física, biologia molecular, planejamento de transportes, engenharia, na área aeroespacial, e em ciência da computação.

Alguns aspectos centrais contribuem para o conceito de antifragilidade. Ela existe num espectro definido pela tríade “Frágil-Robusto-Antifrágil”, como pode ser visto na Figura 1 à frente. A diferença entre os três conceitos repousa em como eles reagem à aleatoriedade, incerteza, estressores, erros e mais importante, tempo. O frágil é aquele que quebra quando enfrenta incerteza. O robusto não se importa muito, e o antifrágil se torna mais forte.

Adicionalmente, Taleb apresenta alguns conceitos que conformam a antifragilidade. Um deles é o “Intervencionismo Ingênuo”, quando intervenções transformam o que é antifrágil em frágil, ou seja, quando alguém tenta ajudar, mas causa mais dano do que benefício. Outro é o de como detectar o que é frágil ou antifrágil através dos conceitos de Concavidade e Convexidade.

Sem avançar nos demais conceitos que definem a antifragilidade (os quais convidamos o leitor a apreciar na leitura desse instigante livro), nossa intenção aqui é trazer para discussão a relação que pode existir entre as quatro estratégias que apresentamos desde a semana passada: as estratégias de moats digitais conjugada com as estratégias de inovação, e as estratégias de resiliência com as de antifragilidade, e como elas se manifestam na era dos negócios digitais (algo que trataremos em outra ocasião).

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre estratégias de resiliência e de antifragilidade na era digital, não hesite em nos contatar!

(*) Autor de livros famosos como “The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable”, de 2007, e “Skin in the Game: Hidden Asymmetries in Daily Life, de 2018.

 

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