Como podemos classificar o tipo de economia digital do Brasil? Esta foi a pergunta que nos mobilizou a escrever as newsletters de 13-02-2022 , 20-02-2022, 27-02-2022, culminando com a proposta de um “Manifesto Geoantropófago (ou Geoantropofágico) Digital” na newsletter de 06-03-2022, usando a celebração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 como forma de expressar o que acreditamos seja a economia digital do Brasil: algo eminentemente cultural!

Sendo assim, podemos iniciar tal esforço a partir do reconhecimento de como a economia digital é percebida neste país, e se faz perceber (marcadamente por outros países do mundo). E uma dessas percepções é aquela que se manifesta pelas representações oficiais do segmento. Aqui podemos destacar a ASSESPRO – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (criada em 1976), a ABES- Associação Brasileira das Empresas de Software (de 1986), a SOFTEX (de 1996), a BRASSCOM (de 2004, que contempla as empresas multinacionais estrangeiras), e os vários Sindicatos do setor distribuídos em todo o território nacional.

Outra percepção é aquela que vem de fora do país, tal como a de instituições, organizações e empresas internacionais, especificamente como a OCDE, OMC, Banco Mundial, AMCHAM, dentre outras. E aqui podemos dar relevância a três importantes documentos recentes: dois trabalhos de natureza mais setorial [um da OCDE, sobre as oportunidades e os desafios suscitados pela digitalização (1), e aquele, também da OCDE, que observa a economia digital pela dimensão dos serviços de comunicações de alta qualidade e preços competitivos (2)], além de outro mais geral, voltado para um diagnóstico compreensivo da economia brasileira como um todo (3).

E o que podemos “sintetizar” a partir das duas percepções acima destacadas? Uma primeira impressão que se pode ter a partir dos três documentos apontados, e considerando a “visão” institucional do setor, é aquela que corrobora a célebre máxima do poeta e compositor Antônio Carlos Jobim: “O Brasil não é para principiantes”! Concretamente, temos uma das maiores economias digitais do planeta, se considerados os mercados de software, serviços, hardware, bem como as exportações do segmento. Estamos entre os dez maiores do mundo em relação a investimentos de TI como proporção do PIB, e temos uma infraestrutura de comunicações nada desprezível, para um país com dimensões continentais.

No entanto, apesar do seu vasto território e de suas perspectivas de desenvolvimento serem importantes globalmente, historicamente o país foi, e ainda permanece, como uma das sociedades mais desiguais do mundo. O Brasil tem assumido responsabilidades globais, e tem perseguido prosperidade econômica com relativo sucesso, enquanto tentando proteger seu patrimônio natural único. Porém, duas fraquezas fundamentais na sua economia ainda persistem: i) primeiramente, o país não reencontrou sua trajetória de crescimento econômico observada entre os anos 1940 e 1980s, e tem lutado (a partir de então) para gerar forte e sustentado crescimento de sua produtividade; ii) e a segunda fraqueza de seu modelo econômico está relacionada com a sustentabilidade dos compromissos do seu gasto público.

Neste sentido, como então podemos classificar a economia digital do Brasil (quando confrontada com a dos EUA, a da Comunidade Europeia, e a da China), e, em que medida, ela pode ser orientada para superar as duas fraquezas acima apontadas? Eis aí um desafio que não é simples de ser enfrentado. Todavia, o Manifesto Geoantropófago (ou Geoantropofágico) Digital que aqui se desenvolve tem, humildemente, a pretensão de tentar responder a este desafio. Uma vez estabelecido este diagnóstico de referência, a próxima newsletter vai trazer os elementos centrais do referido manifesto, o qual tenta colaborar para um novo posicionamento estratégico da economia digital do Brasil.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre o movimento geoantropófago digital, não hesite em nos contatar!

(1) OCDE (2020a). A Caminho da Era Digital no Brasil. OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/45a84b29-pt.

(2) OCDE (2020b). Avaliação da OCDE sobre Telecomunicações e Radiodifusão no Brasil 2020. OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/0a4936dd-pt.

(3) World Bank (2016). “Retaking the Path to Inclusion, Growth, and Sustainability: Brazil Systematic Country Diagnostic”. Report Nº: 101431-BR. June. https://documents.worldbank.org/en/publication/documents-reports/documentdetail/239741467991959045/brazil-systematic-country-diagnostic-retaking-the-path-to-inclusion-growth-and-sustainability.