Como já antecipamos nas newsletters de 01-11-2020, 08-11-2020, 16-11-2020, 22-11-2020, e 30-10-2020, em função da atual transformação digital que está acontecendo no mundo, estamos tomando conhecimento de uma nova área da Economia denominada Digital Finance (Finanças Digitais), onde se constata o impacto das novas tecnologias, negócios e organizações digitais na tradicional indústria dos produtos e serviços financeiros.

O estopim desta nova área foi o lançamento em 2008 da criptomoeda chamada Bitcoin. O propósito da Bitcoin foi o de ser uma moeda com um paradigma de escassez, descentralizado, anônimo e resistente a manipulações, e foi fundado a partir de uma tecnologia revolucionária, com um potencial que vai bem além das finanças, a Blockchain. Desde sua criação milhares de novas criptomoedas emergiram com a intenção de oferecer valor adicionado ou outras funcionalidades, além de pretenderem se tornar um comum meio de troca, reserva de valor e uma unidade de conta.

Como apontado por Longas (2021), a natureza de novidade e de intangibilidade torna virtualmente impossível determinar o valor justo dessa “nova classe de ativos”, que permanecem incertos e um campo fértil para especulação. Isto os previne de manter um valor estável e, portanto, de servir como uma nova forma de moeda, tornando difícil para os investidores obterem retornos estáveis, e limitando seu potencial como ativos de diversificação em relação a renda fixa, ações e commodities.

O problema da alta volatilidade levou à emergência, ao longo dos últimos anos, de novos criptoativos projetados com algum tipo de mecanismo para limitar sua volatilidade de preço, as chamadas stablecoins (moedas estáveis). As stablecoins são apoiadas por um ativo financeiro tradicional (primariamente uma moeda fiat, tais como o dólar americano – USD ou o euro, ou um portfólio delas), ou uma commodity (tal como o ouro ou o petróleo, nos casos da PAX Gold e Petro, respectivamente), ou sua oferta depende de um algoritmo que responde a mudanças em demanda com o objetivo de minimizar a volatilidade (tais como Terra e Ampleforth).

Nos anos recentes a paisagem das stablecoins se expandiu rapidamente, com seis moedas atingindo mais de 1 (hum) bilhão de dólares de capitalização de mercado em dezembro de 2021. Mas, de acordo com Catalini, Gortari e Shah (2022), esta explosão também trouxe uma ampla heterogeneidade em desenhos nas dimensões tais como ativos apoiadores, mecanismo de estabilização, proteção de consumidor, estrutura de mercado, e mais.

De forma ampla, essas escolhas de decisão recaem num continuum entre soluções de negócios completamente centralizadas e soluções completamente descentralizadas. Enquanto os enfoques centralizados envolvem o estabelecimento de uma entidade corporativa como o emissor licenciador das moedas, construindo pontes com bancos para a detenção dos ativos reservas, e graus variáveis de engajamento regulatório, as soluções descentralizadas usualmente colocam poucas restrições na governança e no licenciamento, e pode não envolver qualquer engajamento regulatório.

Ainda é muito cedo para uma avaliação mais abrangente do sucesso das criptomoedas em geral, e das stablecoins em particular. Mas uma questão sobre essas últimas sobressai: as stablecoins têm tido, de fato, um papel estabilizador nos criptomercados? Longas (2021) avaliou empiricamente a habilidade de três stablecoins (duas apoiadas pelo dólar americano – Tether e USD Coin; e uma apoiada em ouro, a Digix Gold) de reduzir o risco de um portfólio de criptomoedas tradicional durante a pandemia da COVID-19.

Utilizando uma metodologia baseada em técnicas econométricas conhecidas, Longas (2021) observou que os resultados revelaram que os dois tokens apoiados em dólar tiveram altas capacidades de diversificação e hedging (proteção) contra criptomoedas tradicionais, e puderam atuar como portos seguros, enquanto Digix Gold mostrou um alto potencial de diversificação, mas limitado por sua alta volatilidade intrínseca. Finalmente, a evidência empírica apontou para a importância de considerar momentos de ordem maior quando se formam portfólios de criptomoedas e se medem seus riscos.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre stablecoins, não hesite em nos contatar!

Referências:

Catalini, Christian; Alonso de Gortari and Nihar Shah (2022). Some Simple Economics of Stablecoins. Annual Review of Financial Economics, Vol, 14.

Longas, Diego Huélamo (2021). Assessing the stabilizing role of stablecoins in cryptomarkets. Master en Banca y Finanzas Cuantitativas. Universidade Complutense de Madrid, Universidad del País Vasco, Universidad de Valencia, Universidad de Castilla-La Mancha.