O Cambridge Dictionary é taxativo: Descentralizar é mover o controle de uma organização ou governo de um único lugar para vários pequenos lugares. A dúvida, aqui colocada como uma paródia da frase “To Be or Not To Be: That is the question” (Ser ou Não Ser: eis a questão – que vem da peça “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare), expressa uma inquietação que vem permeando vários negócios mundo afora, particularmente aqueles que estão se deparando com o complexo e explosivo crescimento da Crypto Economy, ou da Economia da Criptografia.
Apesar de transparecer que é um fenômeno “novo”, na realidade a civilização humana se constituiu na forma de redes de pequenas comunidades descentralizadas (onde todos se conheciam), e só nos últimos 10 (dez) mil anos é que adquiriu um caráter mais centralizado, com a invenção da agricultura. Como argumenta Johann Gevers, um dos fundadores do “Vale do Crypto”, na cidade de Zug, na Suíca, a agricultura permitiu as pessoas produzirem alimento numa escala que não foi possível antes. Isso permitiu o convívio de muitas pessoas juntas em grandes sociedades.
Nessas grandes sociedades não era mais possível lembrar as pessoas com quem se interagia. Emergiu, então, a anonimidade, a qual ameaçava a ordem social. Isso criou a oportunidade para o surgimento dos homens fortes, para restaurar a ordem social. Esses “homens fortes” instituíram sistemas sociais que eram “de cima para baixo”, “centralizados”, e de “comando e controle”. Isto manteve a ordem social, mas com grande poder vem também grande abuso. Logo, as pessoas que viviam nessas sociedades centralizadas, sofreram grande abuso e pagaram um alto preço. Mas essa era a única forma de organizar a sociedade numa larga escala.
As pessoas toleraram esses abusos por 10.000 anos, ou seja, o intervalo inteiro da história. No entanto, 500 anos atrás houve uma nova mudança, que começou a alterar a maré da história humana de volta à sociedade descentralizada que nós vivemos por milhões de anos. Gevers argumenta que quando se observa todo o intervalo da evolução social, o tempo da sociedade centralizada é apenas um pequeno sinal de tempo. É apenas uma pequena transição que nos leva da sociedade descentralizada do passado (que era numa pequena escala) para uma sociedade descentralizada do nosso futuro, que permite que milhões ou bilhões de pessoas vivam juntas de uma forma descentralizada.
Mas, pergunta-se Gevers, o que é que nos permite, mais uma vez, vivermos juntos de uma forma descentralizada, sem aquelas estruturas centralizadas? Segundo ele, os sistemas de confiança baseados em pessoas não escalam além do “Número de Dunbar” (*), mas os sistemas de confiança baseados em tecnologia escalam virtualmente sem limite. A primeira dessas tecnologias foi a Imprensa, de Gutenberg, 500 anos atrás. A economia possibilitada pela imprensa permitiu que pessoas comuns, em todos os lugares, guardassem e comunicassem suas ideais, de forma barata, em todo o mundo, livres das restrições do Estado centralizado e da Igreja centralizada.
A comunicação de ideias livremente inspirou os primeiros movimentos democráticos. As pessoas começaram a desafiar o Estado, a Igreja, e desenvolveram suas próprias ideias sobre como poderiam fazer as coisas. Mas a imprensa foi apenas uma de uma série de tecnologias, das quais as mais recentes são a Internet e Bitcoin. Gevers se refere a todas essas tecnologias colocadas juntas como “Technology of Trust” (Tecnologia de Confiança). Onde sistemas de confiança baseados em humanos não escalam, sistemas de confiança baseados em tecnologia escalam sem limite.
Sendo assim, Gevers argumenta que a Tecnologia de Confiança de uma sociedade descentralizada tem quatro pilares: 1) Comunicação Descentralizada (e na moderna sociedade ela tem dois componentes: Internet e Criptografia); 2) Lei (ou Sistema Jurídico) Descentralizada, baseada em três componentes: escolha da lei, escolha do adjudicador, e escolha do executor); 3) Produção Descentralizada, com a produção descentralizada de materiais e a produção descentralizada de energia; 4) Finanças Descentralizadas, cujos componentes centrais são uma moeda descentralizada e sistemas contratuais descentralizados.
Voltaremos a tratar sobre esses pilares numa outra oportunidade, além de considerar os sistemas distribuídos como mais uma possibilidade de organização!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre sociedade descentralizada, fique à vontade para nos contatar!
(*) O número de Dunbar define o limite cognitivo teórico do número de pessoas com as quais um indivíduo pode manter relações sociais estáveis, ou seja, uma relação em que o indivíduo conhece cada membro do grupo e sabe identificar em que relação cada indivíduo se encontra com os outros indivíduos do grupo.