Nos últimos dois anos finalizamos nossas atividades aqui neste espaço com brevíssimas observações de fechamento de ano, bem como com mensagens otimistas, sobretudo em relação às perspectivas de longo prazo para o futuro do Brasil.
Neste final de ano decidimos publicar a “Carta Creativante 2023/2024”. A partir de uma perspectiva econômica, nas linhas que se seguem tecemos alguns breves comentários sobre o estado da economia global para, em seguida, colocarmos algo sobre a economia brasileira.
Em 2023 convivemos com um predomínio das questões da Geopolítica internacional sobre aquelas da Economia. Iniciamos registrando um ano da invasão da Rússia à Ucrânia e terminamos com o prolongamento das questões oriundas de tal invasão, além de depararmos com um brutal ataque de forças do Hamas contra cidadãos no espaço territorial de Israel, ampliando as tensões no Oriente Médio.
Do ponto de vista da ordem internacional, a atual, que foi construída e sustentada pelos Estados Unidos, vem sendo desafiada em muitas frentes (maiores detalhes aqui). Além do desafio de combater o expansionismo russo, há hoje o desafio da China. Não importando qual será sua trajetória econômica nos anos à frente, a China é uma superpotência, e sua relação com os Estados Unidos não será tranquila, apesar dos acenos pacíficos do líder Xi Jinping em recente viagem ao território estadunidense.
A nota positiva no âmbito da geopolítica foi a conclusão da Conferência da ONU para a Mudança Climática – COP 28 (em Dubai, de 01 a 03 de dezembro), que contou com negociadores de mais de 200 países reconhecendo a necessidade de uma transição energética visando uma redução das emissões dos gases do efeito estufa, e a justiça climática.
Em relação ao panorama econômico, em março deste ano nos perguntávamos neste espaço (aqui e aqui) se ainda estaríamos numa “estagnação secular”, ou seja, um estado de pouco ou nenhum crescimento econômico, conceito resgatado pelo Prof. Larry Summers em 2013, e apontávamos tanto para a opinião deste Professor quanto para a opinião de outro expert, o Prof. Olivier Blanchard.
Registrávamos que para o Prof. Blanchard, “uma vez que os bancos centrais tenham vencido a atual luta contra a inflação, que eles certamente irão, nós iremos muito provavelmente retornar a um ambiente macroeconômico não dramaticamente diferente, pelo menos neste respeito, daquele antes da COVID; ou seja, retornaremos a um ambiente de baixas taxas de juros tal como vínhamos presenciando desde os anos 1980s”. Em outras palavras, continuaremos num estado de “estagnação secular”.
Do outro lado do debate, o Prof. Summers, depois de quase dez anos sustentando que os EUA e economias do mundo industrial viviam uma “estagnação secular”, agora deixou de defender esta tese ao afirmar, em um evento de economistas em janeiro deste ano, que “nós não vamos retornar para a era da estagnação secular, alterando sua visão anterior”.
Agora que a luta contra a inflação parece ter sido finalmente vencida, com o Federal Reserve (banco central dos EUA) mantendo sua taxa de juros em três ocasiões seguidas, dando um claro sinal de que a campanha agressiva de subidas (para conter a inflação) está terminada, e projetando uma série de cortes no ano que vem, é possível se perguntar até que ponto tais cortes poderão ser possíveis. Ou seja, retornaremos ao patamar apontado pelo Prof. Blanchard, ou conviveremos com taxas de juros mais elevadas?
Com relação a este importante aspecto da Economia, nós da Creativante estamos alinhados com a posição manifestada recentemente pelo Prof. Kenneth Rogoff, a qual argumenta que “as taxas de juros mais altas estão aqui para ficar”! Ou seja, “o duradouro consenso de que as taxas de juros permaneceriam baixas indefinidamente, tornando dívidas livres de custo, não é mais sustentável. Mesmo que a inflação caia, os crescentes níveis de endividamento, a desglobalização, e as pressões populistas irão manter as taxas mais altas pela próxima década do que elas foram na década que seguiu a crise financeira de 2008”.
Além dos fatores apontados pelo Prof. Rogoff, podemos incluir a questão demográfica, tal como tratamos aqui neste espaço em 2021. Naquela oportunidade, registrávamos a tese dos autores do livro, de 2020, intitulado “A Grande Reversão Demográfica: Envelhecimento da Sociedade, Minguante Desigualdade, e um Renascimento da Inflação”. Para seus autores, “os fatores demográfico e da globalização foram largamente responsáveis pelas pressões deflacionárias das últimas três décadas, mas tais forças estão agora sendo revertidas, de forma que as principais economias do mundo irão enfrentar, uma vez mais, pressões inflacionárias ao longo das próximas três ou mais décadas”.
Caminhando, finalmente, para a economia brasileira, somos forçados a apoiar a tese de que infelizmente “não aprendemos com os erros”! E para corroborar tal posicionamento, fazemos um convite à leitura do livro “Para Não esquecer: Políticas Públicas que Empobrecem o Brasil”, livro que pode ser baixado gratuitamente na Amazon.com. Este livro é uma verdadeira contribuição para o entendimento da evolução das políticas públicas no Brasil, focando o que deu errado, o que temos que evitar, tarefa fundamental para acertarmos o passo para um futuro melhor.
A nota que poderia ser positiva neste aspecto, seria a da existência de um contraponto a este livro, mostrando em futuro livro que políticas estão dando certo, e estas tanto podem ser políticas públicas quanto de organizações da sociedade civil. Não nos faltam exemplos como as iniciativas de inovações financeiras lideradas pelo Banco Central do Brasil, bem como aquelas como as do Porto Digital e assemelhados, que apontam para o futuro através da tecnologia.
Em resumo, temos muito a fazer pela frente! No balanço geral, existem grandes desafios a serem vencidos, mas também há grandes oportunidades a serem abraçadas!
Logo, gostaríamos mais uma vez de manifestar aos nossos leitores, clientes, parceiros e colaboradores, nossos sinceros votos de Muita Saúde, Boas Festas, e um 2024 repleto de oportunidades!