Atenção: Não estamos tratando sobre a denominada “MMT – Modern Monetary Theory” (“Teoria Monetária Moderna”), que tem despertado muita polêmica (ver origens e debates em https://en.wikipedia.org/wiki/Modern_monetary_theory)! Podemos discutir a MMT em outra oportunidade!

Na newsletter da semana passada concluímos uma resenha sobre o livro intitulado “The Federal Reserve: A New History” (A Reserva Federal: Uma Nova História), de Robert L. Hetzel, e nesta resenha evidenciamos alguns aspectos sobre a definição de modelos macroeconômicos utilizados pelo FED (Banco Central dos EUA), e como tais modelos são traduzidos em políticas monetárias. Na resenha assinalamos também que, ao contrário do que revelou Hetzel, é possível encontrar trabalhos na literatura examinando a política monetária mais recentemente!

Um destes trabalhos é aquele intitulado “The Very Model of Modern Monetary Policy” (O Autêntico Modelo da Moderna Política Monetária), publicado na revista Finance & Development (março/2023) por Greg Kaplan, Benjamin Moll e Giovanni L. Violante. Este artigo remete a um artigo mais técnico dos autores, intitulado “Monetary Policy According to HANK” (Política Monetária de Acordo com HANK) (*), publicado na renomada revista American Economic Review, em 2018.

No primeiro artigo acima, os autores iniciam afirmando que muito da inflação de hoje não é entendido. E perguntam: “Por que algumas famílias são seriamente prejudicadas enquanto outras mal sentem o impacto da inflação, e mesmo se beneficiam? Como a batalha contra a inflação é afetada pelo acúmulo de poupanças e pagamentos do governo trazidos pela pandemia recente? Quão importante foram os choques de oferta relacionados com a pandemia e a invasão da Rússia à Ucrânia?”

Os objetivos evolventes da política monetária complicam ainda mais o entendimento da inflação. A política monetária por longo tempo enfatizou o controle da inflação pela estabilização da demanda agregada. No entanto, recentemente bancos centrais ampliaram seus objetivos para incluir estabilidade financeira, riscos climáticos e geopolíticos, e inclusão social.

Os modelos macroeconômicos desempenham um papel chave em ajudar a navegar nesta complicada paisagem. Modelos ajudam os tomadores de decisões a interpretarem observações empíricas sobre o estado da economia, a sugerir como diferentes contextos de política irão afetar seus objetivos, e, em última instância, guiar decisões de políticas. Modelos quantitativos medem as potências de diferentes forças em ação, ajudando a avaliar os trade-off entre objetivos que competem entre si.

Mas os modelos tradicionais ignoram desigualdades de renda e riqueza, e assumem que o que é bom para o consumidor típico, como definido nos modelos, deve ser bom para a economia como um todo.

Para os autores, uma classe de modelos quantitativos recentemente desenvolvida é particularmente apropriada para orientar banqueiros centrais ao longo deste território de política monetária, em que as distribuições de riqueza e renda são uma consideração central. Conhecidos como modelos HANK, eles combinam modelos de agentes heterogêneos (arcabouço “burro de carga” dos macroeconomistas para estudar distribuições de renda e riqueza) com modelos Novo-Keynesianos (o arcabouço básico para estudar política monetária e movimentos da demanda agregada).

Ainda segundo os autores, modelos HANK transmitem lições sobre efeitos heterogêneos e de redistribuição da política monetária e trazem luzes para os objetivos tradicionais dos bancos centrais de controle de inflação e estabilização de produto/PIB. As quatro amplas lições de como os modelos HANK podem iluminar o atual presente ambiente (dos EUA) de alta inflação são os seguintes (apenas citaremos as lições sem os comentários dos autores):

  • Lição 1: Prever impactos indiretos da política;
  • Lição 2: Alguns navios são suspendidos, outros afundam;
  • Lição 3: Pegadas fiscais importam; e,
  • Lição 4: A ferramenta certa para redistribuição.

Existem outros modelos que contrastam com a perspectiva Novo-Keynesiana para a política monetária, tais como o Market Monetarism (Monetarismo de Mercado), protagonizado por autores como Scott Sumner, mas isso fica para outra oportunidade.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre política monetária moderna, não hesite em nos contatar!

(*) HANK – Significa um acrônimo para “Heterogeneous Agent New Keynesian” Model, um Modelo Novo Keynesiano de Agente Heterogêneo.