Estamos de volta para mais um ano de atividades! Nesta oportunidade gostaríamos de registar um evento bastante significativo para as Finanças. No dia 06 de janeiro do corrente ano o Prof. Markus Brunnermeier (Edwards S. Sanford Professor of Economics e Diretor do Bendheim Center for Finance da Princeton University nos EUA, autor de livros importantes como “The Euro and the Battle of ideas”, de 2016, “The Resilient Society”, de 2021, e “A Crash Course on Crises”, de 2023) foi convidado para dar o anual Presidential Address da American Finance Association.

Sua palestra, intitulada “Macrofinance and Resilience”, pode ser considerada como um marco inovador na Teoria da Macrofinança (tema que tratamos na newsletter de 12-06-2023). O caráter inovador da palestra está exatamente na aplicação econômica do conceito de “Resiliência”, e, como tal conceito foi formalizado pelo próprio Prof. Brunnermeier. Tendo introduzido o conceito do ponto de vista econômico em seu livro de 2021 (A Sociedade Resiliente), agora o Prof. Brunnermeir passa a integrar tal conceito como ferramenta para a modelagem em Macrofinanças.

A palestra se inicia com a apresentação da Figura 1 à frente, onde é mostrado o PIB Real dos EUA em escala logarítmica, apontando para a tendência histórica de crescimento daquela economia, bem como para dois importantes desvios dessa tendência: a Grande Depressão dos anos 20/30/40 do século passado, e a Grande Recessão a partir do final da primeira década do século 21.

Logo em seguida, na Figura 2 à frente, o Prof. Brunnermeier dá um “zoom in” na Figura 1 para mostrar uma grande quebra em 2008 na tendência de crescimento da economia estadunidense sem que jamais a economia tivesse voltado ao estágio anterior à quebra, em termos de níveis e em termos de taxas de crescimento. Daí ele se pergunta: por que crises financeiras são tão “matadoras de resiliência” (ou seja, conceito de resiliência representa uma capacidade de retorno à posição inicial depois de um choque)?

Desta forma, o hiato no PIB dos EUA, se seguirmos a curva de tendência dos últimos anos, seria da ordem de 3 a 4 trilhões de dólares em 2023 (o hiato acumulado é a área em azul na figura). Sendo assim, a não-resiliência importa muito em termos de preocupações, tanto em termos de níveis quanto de taxas de crescimento.

Portanto, o Prof. Brunnermeier se propõe a entender o que é este fenômeno da resiliência, e porque as economias não retornam à posições anteriores. Neste sentido, sua palestra se divide em três aspectos principais:

  1. Resiliência:

    Definição e medidas;
    Gestão de Risco vs. Gestão de Resiliência;
    Macro-resiliência vs. Micro-resiliência.

  2. Modelos Macrofinanceiros:
    Primeira Geração: linear e reversão à média;

    Segunda geração: tipping points (pontos de inflexão) e armadilhas com escapatórias.

  3. O Conceito de Resiliência Aplicado a:

    Dinâmica da Volatilidade;
    Ativos Seguros;
    Setor Financeiro Intermediário;
    Setor Público e Desenho de Políticas: Dívida e Governo e Bancos Centrais.

Eis aí uma agenda inovadora para considerarmos daqui para frente em Finanças (e de modo particular para as Finanças Digitais), tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Talvez se encontre neste conceito de resiliência (ou de ausência de) uma explicação para uma ruptura da trajetória histórica do crescimento do PIB brasileiro desde 1980, fenômeno que vem sendo estudado pelo Prof. Edmar Bacha há uns vinte anos.

Segundo o Prof. Bacha, desde quando começamos a ter estatísticas das contas nacionais do Brasil nos anos 40/50 do século passado, a nossa economia crescia a “taxas chinesas”, numa média de 7,5% ao ano. A partir de 1980, como é possível visualizar na Figura 3 à frente, a economia brasileira não conseguiu mais retornar à sua trajetória de crescimento entre os anos 50 e 80. Ou seja, quais são, nas palavras do Prof. Brunnermeier, os verdadeiros matadores de resiliência de nossa sociedade e de nossa economia?

Eis aí uma agenda interessante para pensarmos daqui para frente!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre resiliência, ou “matadores de resiliência”, não hesite em nos contatar!

Figura 1 – PIB Real dos EUA em escala logarítmica: Crises Financeiras como Matadores de Resiliência

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Fonte: Brunnermeier (2024)

Figura 2 – PIB Real dos EUA em escala logarítmica: Crises Financeiras como Matadores de Resiliência (zoom in da Figura 1)

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Fonte: Brunnermeier (2024)

Figura 3 – Taxa de Crescimento do PIB, Brasil 1950-2000

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Fonte: Adaptado (com dados em retângulos) de Bacha, E. (2022). “Fechamento ao comércio e estagnação: por que o Brasil insiste? Em M. Mendes (org.), Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil. Rio de Janeiro: Autografia, 2022, pp. 831-853.