Neste mês de julho do corrente ano os Professores Carl Shapiro (da University of California) e Ali Yurukoglu (da Stanford University) publicaram no NBER- National Bureau of Economic Research o seguinte artigo: Trends in Competition in the United States: What Does the Evidence Show? (Tendências em Competição nos Estados Unidos: O Que a Evidência Mostra?).

A pergunta que os autores se fazem é a seguinte: A economia estadunidense se tornou menos competitiva nas décadas recentes? Qualquer um é levado a pensar assim baseado no corpo de pesquisas que se tornou rapidamente influente na política antitruste dos EUA. Os autores explicam que a evidência empírica relacionada com tendências de concentração, tendências de markup, e os efeitos de fusões não mostra, na realidade, um espalhado declínio em competição. Nem ela oferece uma base para mudanças dramáticas na política antitruste!

Muito ao contrário, em muitos respeitos a evidência indica que as mudanças observadas em muitas indústrias presumidamente refletem competição em ação. Os autores trazem à tona pesquisa que aponta para intervenções dirigidas que podem possibilitar antitruste enforcement policy (política de aplicação da lei antitruste) para promover e proteger melhor a competição. Ao longo do texto, os autores identificam questões abertas e oportunidades para pesquisa futura no paradigma de evidência em escala cruzada entre indústrias, e no paradigma de estudo de indústria específica, e suas intersecções.

Logo na introdução ao trabalho, os autores nos recordam que um dos princípios basilares de Economia é que mercados competitivos desempenham melhor dos que os mercados monopolizados em entregar preços mais baixos, produtos melhores, e inovação mais rápida. A política dos EUA desde pelo menos o Sherman Act (Lei Sherman) de 1890 tem sido promover mercados competitivos e controle de monopólios. Esta meta básica tem tido suporte amplo e bipartidário.

E como os EUA estão cumprindo isso? Segundo os autores, muitos diriam que nós estamos “mal na foto”. Eles acreditam que tem havido um amplo e significativo declínio na competição na economia dos EUA nas décadas recentes, o que tem causado prejuízo substantivo para o público. Eles chamam isto da “hipótese do declínio na competição”.

Para dar suporte a esta hipótese, alguns apontam para pesquisa recente mostrando que a atividade econômica tem se tornado mais concentrada. Outros apontam para achados de que price/cost markups têm crescido. Ainda, outros apontam para métricas adicionais, tais como o declínio na participação do trabalho, uma taxa menor na formação de novos negócios, ou o crescimento na propriedade comum de empresas comercializadas em bolsas.

Para os autores, a pesquisa subjacente destas reclamações geralmente não segue o enfoque usualmente tomado no campo da Organização Industrial para avaliar poder de mercado, a qual envolve observar empresas individuais, mercados, ou indústrias em algum detalhe para entender as forças que guiam as mudanças, e para detectar qualquer conduta anticompetitiva ou fusões. Ao contrário, tais reclamações são sobre a economia dos EUA em geral baseada em evidência em escala, pela qual os autores entendem como dados agregados disponíveis ao longo de muitas indústrias.

No artigo resenhado, os autores adotam um olhar mais próximo da evidência empírica no que diz respeito a tendências em competição e poder de mercado nos EUA, para ver como a hipótese do declínio em competição se sustenta. Eles não endereçam a criticamente importante, mas distinta questão, de se o poder político das grandes empresas tem aumentado, ou como o poder político interage com o poder econômico. Avaliar tendências no poder político de grandes companhias requereria muitos tipos diferentes de evidência empírica, mais do que aquelas para avaliar tendências em poder econômico. Além do mais, políticas muito diferentes são usadas para controlar diretamente o poder político de grandes companhias, notadamente as regras dizendo respeito a financiamento de campanhas, lobbying, e propriedade da mídia.

De forma especial, os autores prestam atenção às implicações da evidência empírica para a política antitruste. Ao final, enquanto eles favorecem fortemente a aplicação da lei antitruste, eles têm sérias preocupações com que certas decisões das cortes tenham minado aquele objetivo, mas eles não acreditam que a pesquisa recente usando evidência em escala venha a ficar próxima de dar suporte a mudanças dramáticas na política antitruste.

Eis aí um trabalho de folego que pode servir a várias agências de defesa da concorrência/competição espalhadas pelo mundo, particularmente na compreensão da fronteira do que representa hoje, de um lado os poderes econômicos, e de outro lado, os poderes políticos das big tech companies.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre tendências na competição, não hesite em nos contatar!