Na newsletter da semana passada apresentamos os conceitos de Micro Finance (Micro Finança) e da Macro Finance (Macro Finança), e ao fazer isto, introduzimos o argumento de que as Finanças Digitais representam um elo entre estas duas dimensões das Finanças. Mas como esta ponte se estabelece?
Em primeiro lugar, assumimos aqui (e no recém-criado Grupo de Finanças Digitais da UFPE) o conceito de Finanças Digitais proposto pela Comissão Europeia, como sendo o termo usado para descrever o impacto das novas tecnologias na indústria de serviços financeiros. Para a Comissão Europeia, “novas tecnologias financeiras podem facilitar o acesso aos serviços financeiros e melhorar a eficiência do sistema financeiro”.
De fato, desenvolvimentos tecnológicos como as plataformas de trading (negociação), software open source (software de código aberto), e open financial data (dados financeiros abertos) baixaram significativamente, ou mesmo removeram completamente as barreiras à entrada para os mercados financeiros globais. Indivíduos com somente limitadas quantidades de dinheiro à sua disposição podem se iniciar no mercado financeiro, por exemplo, com algorithimic trading (negociação algorítmica), em horas.
Estudantes e acadêmicos em disciplinas financeiras com um pouco de conhecimento em programação podem facilmente aplicar inovações de fronteira em machine and deep learning (aprendizado de máquina e profundo) nos notebooks que eles trazem para suas aulas de finanças. Do lado do hardware, provedores de clouds (nuvens) oferecem computação profissional e capacidades de processamento de dados começando com algo como US$ 5,00 por mês, cobrados por hora e com quase ilimitada escalabilidade.
Ao lado dessas fantásticas inovações tecnológicas em computação e comunicação, passamos a conviver com uma verdadeira revolução na noção de moeda e sistemas monetários, marcadamente a partir do surgimento (para o grande público) da moeda do Bitcoin e da tecnologia que lhe dá suporte: a Blockchain. Segundo o Prof. Fabian Schar, líder do Center for Innovative Finance (CIF) da University of Basel, na Suíça, e autor do livro “Bitcoin, Blockchain and Crypto Assets: A Comprehensive Introdution” (em coautoria com Aleksander Berentsen): “A mais importante contribuição em economia monetária no século 21 é o paper ´Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System´”. (*) Apesar de só virem ao grande público em 2008, a Bitcoin e Blockchain representam o resultado de décadas de pesquisa e desenvolvimento (ver newsletters de 10-10-2021 e 14-11-2021).
A convergência dessas duas revoluções silenciosas (a das inovações tecnológicas e das inovações na moeda e ativos correlatos e nos sistemas monetários) tem fomentado uma melhor compreensão da existência dos ecossistemas de negócios financeiros digitais, tais como: a) o ecossistema centralizado ao redor de instituições centralizadas (como Bancos Centrais, bancos comerciais e outras instituições), hoje reconhecido como CeFi (ou TradFi, de finanças tradicionais); b) o ecossistema DeFi (de Decentralized Finance, ou Finanças Descentralizadas, proporcionado pela emergência das moedas criptografadas, como Bitcoin, Ethereum e outras milhares de moedas e novos ativos financeiros digitais), e, c) o ecossistema PlatFi (de Platform Finance, ou Finanças Plataformizadas, a partir da inserção das grandes plataformas digitais no sistema financeiro) (ver newsletters 01-11-2020; 08-11-2020; 16-11-2020; 22-11-2020; e 30-11-2020, de para uma maior compreensão da emergência de tais ecossistemas).
O poder transformador da convergência acima descrita é mais acentuado quando se observa o que a automação/digitalização dos ativos, infraestruturas e serviços financeiros tem proporcionado em termos de inclusão financeira (ou seja, da incorporação cada vez maior de pessoas e empresas de quaisquer tamanhos aos mercados globais de capitais e financeiros), fundamentalmente a partir da escalabilidade gerada pela substituição de processos baseados em humanos por processos baseados em tecnologia.
Neste sentido, as Finanças Digitais têm cada vez mais possibilitado um elo entre as chamadas Micro Finance (Micro Finança) e Macro Finance (Macro Finança), diminuindo a distância entre as duas. No entanto, como em todas as mudanças que ocorreram na história, nada acontece por acaso, e tais transformações necessitam de processos complexos de governança, o que nos remete aos estudos de formas inovadoras de arcabouços de governança das interações que se estabelecem no interior e externamente aos ecossistemas acima referidos!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre Micro Finança, Macro Finança e Finanças Digitais, não hesite em nos contatar!
(*) Paper que apresentou ao mundo a Bitcoin e a Blockchain!